domingo, 12 de setembro de 2010

Olhos Mudos



Eles apaixonaram-sem diziam que tinha sido pelo conteúdo da cabeça um do outro e era verdade.
Ela sorria a todo e qualquer momento, quase sem querer, um sorriso que brilhava, que provocava um olhar diferente, uma radiação de prazer em sorrir.
Ela sorria e ele olhava, talvez ela quisesse adivinhar os pensamentos, os sentimentos dele e queria, contudo, cada vez tornava-se mais numa tentativa frustrada.

Mas, um dia ele vai olhar nos olhos dela e ver que estão calados, sem vida e sem aquela vontade de sorrir que só ela tem.
Ela tentará reaver o que é seu, quererá ser delicada com a loucura dele, e este, sem saber o que dizer, vai deixar que ela interprete equivocamente a sua loucura, até confirmar nos olhos dela o que a sua boca não falou mas que uma música na rádio fará o favor de confirmar "Ouvi dizer que o nosso amor acabou pois eu não tive a noção do seu fim".

Nessa altura ele irá chorar o amor deles que morreu à míngua, sozinho, no silêncio dela, no silêncio dele, no silêncio da indiferença que mata feito veneno.
Ele vai guardar-se no apego da lembrança dela, até não duvidar mais do fim daquele amor, mas ela...

Sim, ela não voltará a ser a mesma depois dele, vai ser mais desconfiada, mais astuta, mais fria e não irá confiar tão facilmente nos que vierem ao seu encontro.

Ele também será diferente, distrair-se-á com outros corpos, coleccionará outros casos.

O tempo irá passar e, quem sabe, ele lembrar-se-á da sua antiga paixão de vez em quando, mas irá entusiasmar-se com outras, fazer mais promessas de amor, promessas falsas, e irá responder a tudo com um sorriso irónico e triste.

Um dia ele terá mais necessidade de se lembrar dela, talvez seja de manhã ao acordar, pouco depois do almoço, ou então mais provável à noitinha. Se calhar vai ser de madrugada, quando ele começar a ouvir o silêncio, a dor que ficou no lugar dela.

Silêncio longo, infinito, irremediável. O silêncio de agora é tarde. Agora é nunca mais.

E assim ele concluirá: O amor não conhece a sua própria intensidade até à hora da separação.

Que fique claro que não passou duma canção estúpida que só tu ouviste.

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